quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Reencontro


Faziam  ais de um ano que não vinha por aqui e de tanto e tanto que desejaria rabiscar algo a alma teimava em nada querer ditar. Perguntas-me por que razão me fugiu a vontade de escrever ou porque capricho ou maldade a inspiração se esgueirou de mim?

 

Saberia responder decerto e quem sabe em outra publicação te conte. Sabes é duro no abraço do reencontro começar logo a desfilar um rosário de motivos que certamente fariam inveja aos mais dolorosos mistérios do Santo Terço. Assim fica apenas o abraço e a alegria do reencontro contigo meu blog que certamente de abandono reclamas mas que te prometo ser mais fiel e mesmo que para desfilar o tal rosário  voltarei ao nosso instante de cumplicidade.

 

Tenho tanto para te contar que nem sei por onde começar mas de todas as histórias que aqui possa colocar a mais mentirosa de todas será aquela que conte algo que não me diga respeito pois de todas as que guardas fielmente se esvai a literatura e transparece tão simplesmente a verdade deste eu que agora te volta a abraçar e promete não deixar que o frio do abandono volte a gelar o nosso espaço de riso e pranto; aventuras e desventuras, lágrimas e sorrisos…

 

É bom voltar a embriagar-me de ti e ébrio de sentimentos e emoções poder gritar sem censura tanto silêncio que de guardado se fez dor… como dói meu blog o grito sufocado no peito!

 

Agora vou sentir o abraço do reencontro e ao desprender-me prometo voltar sem deixar tempo para a saudade…

 

 

 

 

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Pedido à noite

Anoite descaía o seu manto sobre a cidade que lentamente se deixava embalar pelo sussurro do mar que mesmo ao longe se fazia presente ora pelo murmurar das ondas revoltadas que penetravam a areia numa orgia incessante de vai e vem disfrutando dos poucos momentos de vida que lhes restam antes de se desfazerem em espuma e numa vertigem orgásmica se deixarem devolver ao oceano esperando em qualquer hora voltar ao seu efémero encontro com a terra enquanto se perdem e confundem com outras ondas vindas de outros encontros em outras paragens. O cheiro dos jasmins verdes que de dia se fecham e de noite se abrem qual Cinderellas que ao condão da magia da noite passam de criada a princesa daí o título pomposo de damas da noite que lhes foi concedido, transportavam-no a outros cheiros de outras noites tão diversas daquela em que na mesma varanda se fazia acompanhar de um copo de limonada mas que por convidada se tinha feito anunciar uma tal de solidão que tempos atrás não se dignava invadir o espaço onde o cheiros das damas se cruzava com cheiros de outros perfumes de beijos e sentimentos a que não eram alheios os sussurros do mar que mesmo ao longe procuravam escutar aqueles sussurros feitos segredo entre silêncios e palavras encastrados em suspiros e outros sons próprios de uma banda sonora que só escuta quem se envolve nas melodias harmónicas e confusas que só o coração em dueto com a alma sabem executar. Ali se encontrava contemplando uma tela em que nitidamente transcorria a história que bem podia ter sido copiada das páginas de um livro mas que se mostrava real e se fazia presente tangível e Etéria qual amálgama de sensações que misturava corpo e espírito de forma tão una de virtude e pecado chegando a sentir que pecar por vezes pode ser sublime manifestação dos mais puros estados de alma. Eram momentos que vividos de mãos dadas com a solidão que insistia em marcar o seu espaço que se alargava e se estreitava numa contracção de segundos em que aquela varanda era um deserto de imenso areal queimando-lhe as entranhas com o calor da saudade ou era gélida cela de prisão que o confinava aos pensamentos que lhe traziam de volta a liberdade que lhe escapara por entre os dedos como se fora uma serpente que se esgueira na derradeira hora ao pau que lhe quer tolher a vida, que o faziam envolver-se no manto da noite e pedir-lhe para o agasalhar qual mãe que estreita nos braços o filho desprotegido e frágil que naquele colo terno procura forças para continuar. Era nessas horas que pedia à noite para o embalar num sono sem sonhos porque sonhar já por si o fazia acordar para a mesma realidade que o perseguia implacável e calculista como pena que se cola ao condenado para que este a cumpra sem clemência ou ensejo de lograr fugir. Queria adormecer numa paz que só encontra quem placidamente repousa nos braços da noite e se entrega ao seu canto de embalar feito de sons e silêncios e pedir-lhe que mesmo quando o sol a substituísse e ela fosse adormecer o outro lado da terra o levasse para que jamais pudesse deixar de na companhia da solidão que de indesejada agora passara a cúmplice, jamais deixasse de se achar naquela varanda sentindo o odor das damas que só se abriam na noite ou imaginando os sussurros das orgias do mar continuasse a assistir na tela imaginária à história que embora parecendo cópia das páginas de qualquer livro ficou claramente longe de ter um final feliz.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Tempo de aparecer

Faz tanto tempo que não vinha por aqui…

Vim hoje e recordei as palavras deixadas em outras horas. Tempo vivido em outro tempo; um tempo não muito distante mas tão longe de mim como se houvesse passado uma vida ou mesmo várias vidas.

E no tempo que não vim aqui foi tempo de ser onda, foi tempo de estar na crista e foi tempo de estar tanto tempo a tocar o fundo do abismo…

Foi alegria suprema e tristeza extrema; foi a luta por ganhar mas muito mais vezes a luta por não perder…

Foi tempo de sobreviver para tentar ganhar espaço para viver mas agora é tempo de procurar o tempo de me encontrar e sentir que ainda pode haver tempo para construir no presente bases para um futuro reciclando o que de positivo o passado tiver deixado.

É tempo de voltar aqui e a tantos outros sítios deixados ao acaso em nome de um esquecimento a que eu próprio me votei e continuar a semear por palavras algo que possa ser colhido por quem tenha tempo para ler os devaneios do meu tempo para vir aqui depois de tanto tempo sem aparecer.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Lotação esgotada

Quantas vezes ouvimos falar tanto de um lugar ao sol?

Aquele lugar… aquele sítio onde finalmente podemos estar em paz com a vida e gozando uma plenitude de estado de alma e até de corpo a que se convencionou dar o nome de felicidade.

Estou aqui. Procuro o meu lugar.

Não exijo que seja um lugar muito exposto ao sol. Pode ser um lugar até meio sombrio mas que de vez em quando possa ser tocado por uma nesga de luz deixada ao acaso por um raio do Astro rei.

Procuro e qual viajante sedento que no deserto procura um oásis vejo um lugar. Corro para ele e ao chegar sinto a desilusão da miragem.

Sinto o peso daquele que correu e ao atingir a meta vê afastar-se a linha. Caio por terra e vejo que era pura ilusão, Era o desejo de chegar ao meu lugar que falava mais alto, era o sonho de finalmente poder descansar.

O lugar estava ocupado. Terei de correr novamente em busca dessa paz.

Sinto que a luta se esgota num misto de fraqueza e cansaço, num vazio de solidão acompanhada por uma vida feita de lugares ocupados que não reservam espaço para mim; uma vida em que a lotação está esgotada e nem nos lugares sombrios onde só por acaso se recebe a visita de uma nesga de luz desprendida ao acaso de um raio indisciplinado de sol, eu encontro a minha última pousada.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O meu lugar

Preciso de um lugar onde a minha alma se possa desprender serenamente da matéria e voar até às esferas onde as leis superiores me permitam ascender…

Preciso de um peito onde posar de mansinho a minha cabeça se suspirar nem que seja por uma vez tudo o que a alma implora para que eu grite ao vento…

Preciso de um rio onde poça colocar os meus pés refrescando-os para a viagem…

Quero caminhar rumo ao infinito e nele encontrar a infinita paz que só se encontra no final do caminho, naquele lugar onde a alma se pode tranquilamente soltar e deixar levar ao sabor da brisa…

Beijar meigamente as pétalas das flores e levar nos lábios o sabor do seu perfume; tocar levemente a copa das árvores e sobre o mar voar contemplando o seu azul; vislumbrar ao longe um bando de aves alegres e num repente confundir-me com o seu voo e fundir a minha voz no seu canto de louvor ao autor de todas as maravilhas…

Quero o meu lugar, esse cantinho do do vasto universo onde existe espaço para
Me enroscar em mim mesmo e deixar-me tranquilamente adormecer na paz e na consciência de quem no final de longa caminhada encontra no olhar de Deus o refúgio misericordioso de quem abre os braços para receber amorosamente o filho que chega de viagem.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

A sós com a chuva

Por vezes a poesia escreve-se nos mais simples quadros que a vida nos vai pintando no dia a dia e só mesmo com olhos de quem embala no peito o doce afago que existe nas palavras que o poema nos dita pode pintar com letras de sonho aquilo que a alma contempla a cada passo de uma realidade que mesmo desenhada em traços de tristeza pode ainda conhecer um leve toque de cor.

A chuva hoje resolveu brindar-me com o seu sorriso molhado e quase numa atitude atrevida desafiou o sol que se fazia presente neste dia de Junho.

Foi como uma bênção materializada em gotas de água que me beijavam a pele e me tocavam a alma numa energia balsâmica que purifica e renova.

Foi mágica a companhia da chuva que hoje resolveu tomar café comigo na esplanada transformando um momento quase rotineiro na minha hora do almoço em espaço privilegiado para eu deixar-me voar nas asas daquela poesia que desliza entre o silêncio das palavras e nos transporta ao esquecimento de nós mesmos deixando-nos ali abandonados numa solidão partilhada com o instante.



Lendo em tempos uma frase que nos convidava a ao contemplarmos uma flor nos lembrássemos do seu autor elevo ao alto o meu canto de gratidão pelo sublime abraço que hoje me foi dado pelo criador instrumentalizado numa banal manifestação da natureza mas que em mim se manifestou materializando a mais terna das bênçãos.

domingo, 17 de maio de 2009

Mãe que te dei eu?

Mãe, quando nasci o teu sorriso irrompeu ao mesmo tempo que o meu primeiro choro lembras-te?

Contaste-me que o sino da igreja tocava as 2:30 da madrugada de um dia que já vai longe num ano longínquo de 1971.

Mãe lamento que o teu sorriso se tenha transformado em lágrimas quando te contaram que o teu filho teria de ver o mundo de forma diferente. É cruel mãe, mas a lei da vida é assim e esta teria de ser a nossa cruz…

Carregaste a tua cruz em busca de que o seu peso fosse menor mas a luz que se acendeu na tua esperança e nos meus olhos seria tão efémera como a de uma estrela cadente que parece querer iluminar o mundo e depois se escurece no negro do universo.

Lutei e tu sabes que lutei para que a dureza da nossa cruz fosse menos fria e mórbida como nos faziam crer e acho que consegui de certo modo que por vezes o peso que ambos carregamos ficasse mais aliviado.

Sabes, brincava com a cruz mas outra maior surgiria na minha vida e claro na tua… que te dei eu de bom mãe?

Nada.

Dei-te uma cruz para carregar e dessa cruz outra se ergueu do calvário que eu mesmo criei nas nossas vidas e hoje aqui estamos nós a levar em ombros o fruto dos meus devaneios…

Só queria que me perdoasses por tudo quanto não fui capaz de te dar e que entendas que o teu sofrimento sempre foi muito meu embora não te mostrasse como talvez deveria mostrar.

As tuas lágrimas regaram o meu coração e depositaram nele uma capacidade de amar que ninguém até hoje entendeu e quanto sofri por querer entregar o amor que tu me ensinaste a plantar mas que talvez eu não soubesse regar da melhor forma ou que a terra onde por vezes o colocava se empedernia e não deixava germinar a semente que tantas vezes eu quis ver transformada em flor.

Mãe, não culpo ninguém pelo que hoje sou mas culpo-me por não saber ter sido aquilo que tu sonhaste…

As janelas da rua onde caminho fecham-se à minha passagem e a noite está fria. Quero correr para ti mas as pernas estão a ficar geladas e o meu corpo teima em não obedecer aos desejos da alma.

Mãe porque não fiquei eternamente pequeno e preso ao teu colo?

Porque razão me tornei crescido e não usei da forma que me ensinaste A liberdade que escreveste com letras de confiança no livro da minha vida?

Hoje só te peço que me perdoes e esqueças o peso da cruz que fui nos teus dias e que não me julgues por nunca te ter dito a ti que sempre o mereceste a palavra que tantas vezes disse a quem a jogava facilmente num arquivo morto do corpo ou da alma…

Mãe acredita que nunca dizendo sempre o senti e diz que me perdoas e que acreditas que As letras da palavra amo-te estão impressas para sempre na minha alma e que te contemplo do alto da minha humildade por todos os dias de todas as vidas que ainda tenha de percorrer.